13/09/2007

Entrevista na Globo.com


A poucas semanas do fim de Paraíso Tropical, Alessandra Negrini faz um balanço de seu desempenho na trama.

Mais do que ninguém, ela sabe o que é segurar o rojão de protagonizar uma novela das oito, com o agravante de interpretar duas personagens ao mesmo tempo e garante que não teve medo do desafio. Na entrevista abaixo, a atriz fala ainda sobre a fama, a autocrítica, sua identificação com perfil e figurino das gêmeas, além de sua relação com os autores Gilberto Braga e Ricardo Linhares.

Qual era o seu maior medo ao saber que ia interpretar gêmeas?

Na verdade, não tive medo. Foi um desafio maravilhoso. Não quis marcar muito a diferença delas, achei que o mais interessante seria fazer as duas bem próximas uma da outra, para fazer um jogo de adivinhação na cabeça do telespectador. Porque o legal de gêmeas é elas serem iguais. Se for muito diferente perde a graça. Você tem que conhecer primeiro a pessoa para começar a identificar bem quem é uma e quem é a outra. E o que eu queria era que isso acontecesse com as pessoas. Era um caminho mais difícil, mas era o caminho que eu queria que acontecesse. E a história levaria cada uma a ter um caráter diferente. O mais difícil mesmo foi a quantidade de trabalho, porque como era muito texto, muitas horas de gravação, sobrava muito poucas horas para estudar. Esse foi um grande desafio: conseguir fazer um trabalho bem feito com muito pouco tempo.

Você é muito exigente com você mesma, costuma fazer autocríticas?

Sou exigente, sim. Sou bastante crítica comigo mesma, mas aprendi com o tempo a ter uma crítica melhor a meu respeito. Antes eu sofria mais com as coisas. Hoje faço uma crítica mais profissional, não sofro tanto. Sou muito detalhista, os detalhes me deixam louca. Sou muito concentrada também!

Você sente muita pressão por protagonizar uma novela das oito, com o agravante de interpretar duas personagens ao mesmo tempo? Qual a parte positiva dessa responsabilidade? E a negativa?

Sim. É um trabalho de responsabilidade, porque você tem que estar lá todo dia, tem que estar com a saúde boa, tem que estar com a cabeça boa, porque tem muita gente enchendo a paciência. Os diretores não, eles sempre foram pessoas muito bacanas, não tenho do que reclamar deles, só me ajudaram. Nunca me senti pressionada por ninguém aqui dentro, pelo contrário, senti muita confiança. Mas teve uma hora que parei de ler jornal, porque estava me perturbando, estava me fazendo mal. Aí pensei: “Vou ficar limpa, com a cabeça focada no meu trabalho e vencer isso!”. Nesse sentido, tinha uma pressão, mas a pressão mesmo é você ter que fazer um espetáculo bonito para o povo, para o Brasil inteiro, todos os dias. É bonito o acesso que a novela tem no país inteiro. A resposta do público que eu tive nesse trabalho, as pessoas sabendo da dificuldade que é, e reconhecendo isso, me dando parabéns, me deixou muito orgulhosa. Vale a pena.

Você já disse em entrevistas que a exposição é uma das coisas que lhe incomodam na carreira de atriz. Como manter a privacidade enquanto está no posto mais cobiçado entre as atrizes brasileiras, que é o papel de protagonista de um dos programas mais vistos pelo público?

O assédio do público não me incomoda. Gosto tanto da minha liberdade, que acho mais importante a minha liberdade do que ficar dando uma de atriz no meio da rua. Coloco meu chinelo e vou tomar café da manhã na rua, no Leblon. Continuo fazendo isso, apesar dos paparazzi, porque quero estar à vontade, luto por isso, por poder caminhar no mundo à vontade. O público não me incomoda, é mais essa invasão da imprensa, que é muito chata, essas revistas de fofocas, isso é chato, mas faz parte, tem que aturar também, né? Mas é só manter a cabeça com os pensamentos mais elevados, saber que isso faz parte, mas que não é você. Eu sou Alessandra, normal, mãe de família, dona de casa e sou atriz. Amo meu trabalho. Agora, essa estrela, a fama etc, não estou muito aí para isso. Essa á a parte mais chata para mim.

Você também já disse, em entrevistas, que tem a consciência de ter a fama de possuir um temperamento difícil...

Não tenho temperamento difícil. Quem trabalha comigo sabe que não tenho. O que não tenho é paciência para certas coisas, mas não sou uma pessoa de temperamento difícil. Só não sou dada!

Quais características da Taís que você tem ou gostaria de ter? E da Paula?

A Paula e a Taís não deixam de ser eu. Eu sou as duas. A Paula no idealismo, por lutar pelas coisas, por um mundo melhor e pela justiça. A Paula é uma idealista, romântica e eu sou um pouco assim também. A Taís tem uma maneira mais prática de viver a vida, uma pessoa que cai, mas levanta, se recupera e vai à luta. Esse lado mais realista da Taís eu tenho também, de ser uma pessoa resistente.

E com relação aos figurinos? À maneira delas de se vestir. O que faz mais o seu estilo?

No dia-a-dia, não uso maquiagem, só um gloss e um rímel. Agora, quando tenho uma festa, uso uma maquiagem mais pesada como a da Taís. Mas não dá para usar a maquiagem dela o tempo todo. Algumas roupas da Taís têm a ver comigo, tem uma coisa rock’n roll... Tenho menos a ver com o figurino da Paula.

Tanto o Ricardo Linhares quanto o Gilberto Braga, quando dão uma entrevista, sempre elogiam muito o seu trabalho. Você gostou de trabalhar com o texto dos dois?

Sem dúvida, quando fui chamada para fazer, já fiquei muito feliz, porque admiro muito o trabalho do Gilberto. Ele é uma referência de dramaturgia no Brasil. E com o Ricardo eu já tinha feito uma novela que foi muito bacana. Ele é muito sensível, muito delicado, foi muito bom! A qualidade do texto dos personagens é muito alta. Tem gente que fala que é muito difícil, mas difícil é fazer trabalho ruim. Quando o texto é bom, o trabalho flui.

Agora que “Paraíso Tropical” está na reta final, como você avalia esse trabalho?

Foi um trabalho muito difícil e muito prazeroso ao mesmo tempo. Foi como subir uma montanha muito alta, e você sabe que é um esforço muito grande, mas que você quer muito e vale a pena o sacrifício, porque foi um trabalho sacrificante. Me deu muito retorno artístico e muita força pessoal. Sou uma pessoa mais forte hoje, por ter vencido a batalha de ter feito essas gêmeas nessa novela.

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