30/09/2008

Alessandra Negrini fala sobre a nova dobradinha com o diretor Julio Bressane, em 'A erva do rato'


A atriz Alessandra Negrini, que está no filme "A erva do rato", dirigido pelo cineasta Julio Bressane, concedeu uma entrevista sobre o processo de criação da personagem, como foi trabalhar com o diretor e sobre sua carreira no cinema. O filme, que tem sessões para o público esta terça-feira, às 15h30 no Odeon, e na quarta-feira, às 15h40 e 22h30 no Estação Vivo Gávea 3, é a segunda dobradinha do diretor com a atriz, algo extremamente raro nas produções de Bressane. Baseado nas obras literárias de Machado de Assis: "A causa secreta" e "Um esqueleto", o longa conta a história de um casal que se conhece no cemitério e acaba se aproximando após o desmaio da moça. Ela (Negrini) e Ele (Selton Mello) referem-se um ao outro apenas com os respectivos pronomes durante a história.

Vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cinema de Brasília no ano passado pelo filme "Cleópatra", também de Bressane, Negrini comprovou oficialmente possuir os requisitos para encarar uma trama tão aguda e irônica como "A erva do rato". A atriz, que iniciou sua carreira na novela "Olho no olho", já tinha obtido bons elogios com a minissérie "Engraçadinha... seus amores e seus pecados", destacando-se como uma promissora profissional na dramaturgia brasileira. Em 1997, fez sua primeira aparição no cinema no premiado "O que é isso, companheiro?" e continuou pelas salas de projeção em filmes como "Um crime nobre", de Walter Lima Jr., e "Sexo, amor e traição", de Jorge Fernando.

Leia agora a entrevista com a atriz:

Julio Bressane teve poucas musas. Helena Ignez, Maria Gladys e agora você. Como você se vê nesse time seleto de atrizes que se destacaram por escolhas cinematográficas baseada no risco, na coragem?

Pôxa, isso é um elogio, mas nunca pensei por aí. Queria fazer coisas de qualidade e instigantes. Se não há risco e coragem envolvidos, é porque não há trabalho a ser feito. E isso vale tanto para os filmes do Julio, quanto para ser protagonista da novela das oito. Na verdade, eu sempre penso que estou arriscando tudo, mas que também não estou arriscando nada. Afinal, não estou operando ninguém e nem construindo um prédio. Estou fazendo arte. Posso errar quantas vezes eu quiser, porque não existe erro, a viagem é outra!

Como foi a preparação para "A erva do rato"? Houve ensaios? Bressane fornece algum tipo de material (livros, manuscritos, gravuras) da sua vasta biblioteca para a preparação de "Erva" e do filme anterior? Como o contato com esse material é exercitado e depois assimilado de alguma maneira no fazer o filme?

Sim, é no ensaio que o filme começa a existir. Foram dois meses, mais ou menos de longas conversas sobre o filme, sobre as cenas e até sobre a vida. Na hora da filmagem tem que estar tudo isso ali, de fácil acesso, porque não há tempo para mais nada. É chegar e fazer. No geral, é take único. A cena mesmo só existe na hora, o ensaio é a gestação. Julio tem uma forma maravilhosa de te colocar no universo do filme, ou seja, de te fazer entender e sentir a criação mental dele através da imagem. Ele traz muito material iconográfico. Através da observação de pinturas, ele vai te mostrando a textura do filme, o clima, os personagens e até a ação. É muito interessante porque cinema é imagem! É um outro caminho, não o do drama psicológico, que também faz parte, mas não é o mais importante nos filmes do Julio.

O filme é uma adaptação de dois contos de Machado de Assis, dos quais Bressane disse ter tirado não mais que poucas linhas. Machado divide com Guimarães Rosa o título de nosso grande escritor. Você temeu desagradar os puristas canônicos que podem apontar uma suposta liberdade excessiva para com o autor, e que já tinham feito restrições ao "Brás Cubas" bressaniano? Alguns já haviam criticado "A causa secreta", filme de Sérgio Bianchi, também inspirado no mesmo conto usado por Bressane.

O filme não é uma adaptação. É uma invenção do Julio, um roteiro que tem dois núcleos tirados de dois contos do Machado: "A causa secreta" e "Um esqueleto". Na verdade o que o Julio sempre fala é que se trata de sugerir o estilo literário do Machado na imagem, um exercício de tradução desse estilo em termos de estética, de imagem.

O que mudou em termos práticos (exercícios de preparação, contato no set), de "Cleópatra" para "A erva do rato"?

"Cleópatra" era grandioso, um vôo alucinógeno. "A erva" é íntimo, subterrâneo e misterioso. Um jogo de concentração absoluto. Eu e o Selton tínhamos que manter a tensão sem quase nos olhar. Foi como contracenar pelo avesso, muito interessante, mas não dá pra explicar, só vendo o filme.

Veneza faz parte da tríade sagrada de festivais de cinema de todo o mundo, junto com Cannes e Berlim. Bressane tem exibido seus filmes com regularidade por lá. Como foi sua experiência pessoal de mostrar lá "Cleópatra" e "A erva do rato"?

Foi muito bom descobrir que o seu trabalho pode comunicar e emocionar para além da sua própria cultura, em outros lugares do mundo e em outras línguas. Faz você se sentir artista e isso é o melhor! Esses festivais, mesmo com todo o caráter mercadológico da coisa, se sustentam ainda, como centros de reflexão cinematográfica e por isso os filmes do Julio são tão bem recebidos. Confesso que fiquei deslumbrada com a delicadeza e sensibilidade com que fomos tratados, e agora, por ter ido lá pela segunda vez consecutiva, me surpreendi com o número de pessoas que me conheciam, com foto e tudo para autografar! Cheguei a pensar: será que está passando uma novela aqui e eu não sei? Não, era o filme do Julio mesmo!

Só você e Selton atuam no filme. No teatro isso é bem mais comum, embora no cinema não seja inédito. Esse processo traz peculiaridades técnicas?

Foi como eu falei: contracenar pelo avesso. A gente quase não se vê e nem se fala no filme. Nem eu nem o Selton sabíamos no que isso ia dar. Um processo muito misterioso mesmo. O bacana é que ao ver o filme, a gente se surpreendeu com a sintonia que estava lá, magicamente registrada.

Você tem trabalhado mais intensamente no cinema nos últimos anos, em parceria com cineastas-autores como Bressane e Walter Lima Jr. De que maneira estes diretores modificaram a sua maneira de ver o cinema e de entender o seu lugar na produção audiovisual brasileira?

Estou pensando sobre isso e não sei te responder ainda. Só sei que estou mais satisfeita e feliz com o meu oficio. E estou muito apaixonada por cinema.

De que forma uma experiência de entrega radical como "Cleópatra" pode te dar novos subsídios para sua atuação na TV?

Sei lá. Todo trabalho te faz melhor. Eu me acho uma rainha então....quem sabe trouxe mais estirpe (risos).

O que te espera na televisão nos próximos meses?

Por enquanto, férias.

Existe um Bressane na TV brasileira hoje?

Existem pessoas que ousam, experimentam e até criam linguagem. Eu mencionaria o Guel Arraes e o Luiz Fernando Carvalho.

Você trabalhou em seis filmes. Obras tão diferentes como "O que é isso, companheiro?", "Um crime nobre", "Os desafinados", os de Bressane, e "Sexo, amor e traição". O que lhe dá mais prazer no cinema, e o que lhe dá menos? Gostaria de ter feito mais coisas?

Tudo é difícil e um grande prazer ao mesmo tempo, mas vamos embora vivendo. Isso é o que interessa.


Fonte: O Globo.



3 comentários:

Anônimo disse...

mas heeeein!!! to apaixonada pelo blog e pelo filme :D
estréia logo neh n??

vou ti contar...
qui cariinha de chapada
qui ela tah nessa foto.
chapada masi linda da fã *-*
hahahahahhaahah

blog tah show de bola ;)

Unknown disse...

Eu vejo essa foto e só consigo chorar pelo cabelo cortado ! ;P hahahaha

Anônimo disse...

hola soy tu fam no dejo de pasar el la telenovela paraiso tropical es muy maravillosa