27/11/2007

Cleópatra causa polêmica em Festival de Brasília


Rodrigo Vizeu - O Globo Online
BRASÍLIA - Poético, belo, intenso, devasso. Perturbador, difícil, cansativo... não deveria ter sido feito com dinheiro público. Intolerável. Foram muitas as classificações feitas pela platéia após a exibição de "Cleópatra", de Júlio Bressane, no terceiro dia da mostra competitiva do Festival de Brasília. E foi exatamente tolerância que pediu o diretor em seu discurso inicial.

- Para se gostar de alguma coisa é preciso ter paciência - advertiu, arrancando risos.
O público obedeceu e ficou até o fim, mas, em sua maioria, não perdoou e vaiou impiedosamente a peculiar leitura do mito egípcio, apesar de uma barulhenta minoria que aplaudiu o filme de pé. Bressane, dono de uma filmografia que inclui "O anjo nasceu", "Matou a família e foi ao cinema" e "Filme de amor", pareceu feliz com a repercussão.
- Eu não esperei que o público fosse suportar isso. Ficaram até o final. Para mim foi uma surpresa. O filme é um arrepio disso que está aí, uma contrapeso, um contrafluxo disso tudo. O filme traz de volta uma coisa que está esterilizada no cinema brasileiro, que é a sensibilidade, a imagem artística, sobretudo a patologia artística. Então foi uma surpresa ver que as pessoas, mesmo sem experiência pra ver uma coisa dessas, tivessem tido estômago para aceitar. É um público tão desacostumado a ler, a ver e a sentir e, sobretudo, a se observar quando está sentindo - disse.

No filme, uma Cleópatra passional (Alessandra Negrini) enfeitiça Júlio César (Miguel Falabella) e depois Marco Antônio (Bruno Garcia) em direção a um paraíso lisérgico de sensações a qualquer custo, onde os acontecimentos históricos e políticos estão apenas em segundo plano. Os atores, mergulhados em algo de onírico e irracional, tiveram, segundo o próprio Bressane, total liberdade para criar e desenvolver os papéis, o que fica evidente pela singular mise en scène. Do enredo, não se poderia esperar algo linear de Bressane. "Cleópatra" não é prosa, mas poesia. E como se não bastasse, há o espetáculo visual da fotografia de Walter Carvalho.

Alessandra Negrini se destaca pela imersão no personagem principal, uma rainha apaixonada e lírica, com um ar contemplativo e superior que sempre a mantém acima dos líderes romanos.

- A idéia era fazer essa representação das representações, por isso a idéia do sotaque. É um lugar estranho, encantado, tem o componente latino. Foi a primeira Cleópatra latina, ela é sentimental, tem uma pegada que é só nossa. Filmar com Bressane foi uma delícia, uma viagem. Uma grande aventura, mas ao mesmo tempo muito segura, porque ele é um maestro. E você ser levada por um maestro é uma sensação muito boa - conta a atriz.

Alessandra pareceu não se importar com as vaias do público, que não poupou risos para as cenas de sexo pouco usuais do filme e para o sotaque de Cleópatra, algo entre o português de Portugal e o interior do Paraná. - É um público empolgado né, um público que se manifesta. Achei lindo, interessantíssimo. Já tinham me dito que aqui que tem sempre gente que vaia e aplaude. E tem aqueles que ficam no cinema até o fim só para vaiar no final. Acho muito engraçado isso, essa coisa política que tem aqui em Brasília - disse.



Um comentário:

Anônimo disse...

EU amo a alessandra negrini tanto é que eu fiz um desenho dela e meu sonho é entregar esse desenho nas mãos dela pessoalmente eu sou fã apaixonado!!!!!!!!!!!!!