14/09/2008

Alessandra Negrini e Selton Mello lançam 'Erva do rato', de Julio Bressane, em Veneza




VENEZA - O veterano cineasta Julio Bressane, chamado pela imprensa estrangeira como símbolo do cinema independente brasileiro, volta ao universo literário de Machado de Assis para mostrar a repulsão, através de ratos e esqueletos em "A erva do rato", apresentado esta terça-feira em mostra paralela do Festival de Veneza.

Exibido na seção Horizonte, "Erva do rato" é cinema inquieto, para ser apreciado através de sinais e sofrer com eles.
- Não é uma adaptação fiel de Machado de Assis. É uma tradução em imagens do seu espírito - explicou o diretor brasileiro.
A base literária são dois contos, "Um esqueleto" e "A causa secreta", mas deles há pouco no filme. Apenas um apanhado de referências em torno de dois elementos: os ratos e os esqueletos. "As duas coisas que, em toda a história da arte e do homem, provocaram repulsão", definiu Bressane.

O "jogo semiótico", nas palavras do diretor, é protagonizdo por Alessandra Negrini - que esteve ano passado em Veneza apresentando o filme anterior de Bressane, "Cleópatra" - e Selton Mello. Os dois vivem os únicos personagens do filme e sustentam os longos planos do cineasta.
"Erva do rato" tem uma primeira máscara, nas palavras de Bressane: a literária. Com ela, o cineasta recupera o talento de Machado de Assis (1839-1908) para "reiventar a língua portuguesa, com novas linhas formais e estruturais" e têm como resultado uma narrativa cinematográfica insólita.
"Erva do rato" - um único veneno que não tem antídoto, segundo o filme - começa em um cemitério, onde duas pessoas se conhecem. Seus nomes são, simplesmente, Ele e Ela, e os dois estão condenados a ficar juntos para sempre.
Ela só terá a Ele para a dura tarefa de transcrever as histórias que conta, o que encherá centenas de cadernos e irão consumir toda sua energia. "Depois que cai a primeira máscara vem a luz", conta o diretor.
E aí começam as referências pictóricas que remetem a pinturas de Edouard Manet (1832-1883), em especial o quadro "O almoço sobre a erva", marco do Impressionismo, apesar de o autor negar sua finalização.
- Fala da percepção, da expansão da luz. A luz é um processo químico e está antes à frente dos atores e domina a cena - completou Bressane, que já adaptou, em 1985, "Memórias póstumas de Brás Cubas', de Machado de Assis.


Fonte: O Globo Online

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